segunda-feira, 6 de abril de 2015

O Método de Kardec


Kardec nasceu no início do século XIX, numa fase de aceleramento do processo cultural em nosso mundo. For­mou-se na cultura do século, sob a orientação de Pestalozzi, o mestre por excelência. Especializou-se em Pedagogia, que podemos chamar de Ciência da Cultura, e até aos cinqüen­ta anos de idade exerceu intensas atividades pedagógicas, tornando-se o sucessor de Pestalozzi na Europa. Não se fez padre nem pastor, mas cientista e filósofo, na despretensão e na humildade de quem não procurava elevadas posições, mas aprimorar os seus conhecimentos. Adquiriu no estu­do, nas atividades teóricas e na prática, o mais amplo co­nhecimento dos problemas culturais do seu tempo.
  
Vivendo em Paris, considerada então como o cérebro do mundo, impôs-se ao consenso geral como homem de elevada cultura, um intelectual por excelência. Colocado num mo­mento crucial da evolução terrena, viu e viveu o drama cul­tural da época. E só aos 50 anos de idade, maduro e culto, deparou com o problema nodal do tempo e procurou solu­cioná-lo em termos culturais. Esse problema se resumia no seguinte: a cultura clássica, religiosa e filosófica, desabava ao impacto do desenvolvimento das Ciências, sem a menor capacidade para enfrentar o realismo científico e salvar os seus próprios valores fundamentais.

Formado na tradição cultural do Século XVIII, herdei­ro de Francis Bacon, René Descartes e Rousseau, compre­endeu claramente que o problema do seu tempo repousava na questão do método. Os fenômenos espíritas se verifi­cavam com intensidade, como uma espécie de reação natural aos excessos do empirismo, no bom sentido do termo, que era a aplicação do método experimental a todo o Conhecimento. A tradição espiritual rejeitava esses excessos mas não dispu­nha de armas para combatê-los. Kardec resolveu aplicar o método experimental ao estudo dos fenômenos espíritas.


Logo aos primeiros resultados verificou que o nó do problema estava no seguinte: o método experimental se aplicava ape­nas à matéria, excluindo-se o espírito que era considerado como imaterial e portanto inverificável.

Mas se havia fenômenos espíritas era evidente que o espírito, manifestando-se na matéria, tornava-se acessível à pesquisa. Tudo dependia, pois, do método. Era necessá­rio descobrir um método de investigação experimental dos fenômenos espíritas. Era claro que esse método não podia ser o mesmo aplicado à pesquisa dos fenômenos materiais, considerados como os únicos naturais. Mas porque os úni­cos? Porque as manifestações do espírito eram considera­das como sobrenaturais, regidas por leis divinas.

Já Descartes, no Século XVII, lutando contra o dogma­tismo escolástico, mostrara a unidade de alma e corpo na manifestação do ser humano e advertira contra o perigo de confusão entre esses dois elementos constitutivos do ho­mem. Kardec se sentia bem esteiado na tradição metodológica e conseguiu provar que os fenômenos espíritas eram tão naturais como os fenômenos materiais. Ambos estavam na Natureza, espírito e matéria correspondiam a força e ma­téria, os dois elementos fundamentais de tudo quanto existe.

Daí sua conclusão, até hoje inabalada, e confirmada na época pelas manifestações dos próprios Espíritos que o as­sistiam: a Ciência do Espírito correspondia às exigências da época. Mas era necessário desenvolvê-la segundo a orien­tação metodológica da Ciência da Matéria, pois essa orien­tação provara a sua eficiência. A questão era simples: na investigação dos problemas espirituais o método dedutivo teria de ser substituído pelo método indutivo. Mas essa questão se tornava complexa porque a tradição espiritualista, cristalizada nos dogmas das igrejas, repelia como heré­tica e profanadora a aplicação da pesquisa científica aos problemas espirituais.

Kardec enfrentou a questão com extraordinária cora­gem. Enfrentou sozinho, sem o apoio de nenhum poder ter­reno, todo o poderio religioso da época. Teve então de co­locar-se entre os fogos cruzados da Religião, da Filosofia e da Ciência. Os teólogos o atacavam na defesa de seus dogmas,­ a Filosofia o considerava um intruso e a Ciência o con­denava como um reativador de superstições que ela já ha­via praticamente destruído. A vitória de Kardec definiu-se bem cedo. A Ciência Psíquica Inglesa, a Parapsicologia Alemã e a Metapsíquica Francesa nasceram da sua cora­gem e das suas pesquisas. Mais de cem anos depois, Rhine e Mac Dougal fundariam nos Estados Unidos a Parapsicolo­gia moderna, seguindo a mesma orientação metodológica de Kardec. E a sua vitória se confirmou plenamente em nossos dias, quando as pesquisas parapsicológicas endossa­ram as conclusões de Kardec e logo mais a própria Física e a Biologia fizeram o mesmo. A palavra paranormal, criada por Frederic Myers e hoje adotada na Parapsicologia, subs­tituiu em definitivo, no campo científico, a classificação errônea de sobrenatural dada aos fenômenos espirituais.

O espírito como objeto


Kardec transformou o espírito, entidade metafísica, em objeto específico da pesquisa científica. Nem mesmo a reação kantiana, nos séculos XVIII e XIX, com a crítica da razão, estabelecendo os supostos limites do conhecimento em termos do Empirismo inglês, impediu essa transformação. Na pró­pria Alemanha o Prof. Frederico Zollner, da Universidade de Leipzig, submeteu o espírito à investigação kardeciana e Schrenck Von Notzing, em Berlim, instalou o primeiro la­boratório de pesquisa espírita do mundo. Hoje os cientis­tas soviéticos, na maior fortaleza ideológica do materialis­mo no mundo, provaram sem querer a existência do espírito e de seu corpo espiritual, a que passaram a chamar de cor­po bioplasmático. As pesquisas realizadas com o fenômeno da morte mostrou-lhes que o corpo material é vitalizado por ele e por ele mantido em função. A última novidade da Biologia soviética é essa descoberta que atenta contra o ma­terialismo de Estado.

O  espírito convertido em objeto de investigações físi­cas e biológicas é hoje a prova inegável da vitória de Kar­dec. Mas Kardec avançou além dessa posição atual. Ele não se limitou a pesquisar o espírito como objeto acessível à percepção sensorial. Da mesma maneira por que o pen­samento, na Lógica, é um objeto não-físico — e hoje na



Parapsicologia um objeto extrafísico — Kardec submeteu o espírito a pesquisas psicológicas e provou a sua realidade energética, a sua natureza dupla, de energia espiritual pu­ra manifestada no corpo espiritual, de natureza semimate­rial. Os instrumentos de que se serviu para essa audaciosa pesquisa constituem hoje os campos de força da percepção extra-sensorial, cuja realidade palpável foi demonstrada pe­las experiências de laboratório dos mais eminentes parapsicólogos. A aparelhagem mediúnica das pesquisas de Kardec, ridicularizadas pelos sabichões do tempo, como Ri­chet os classificou, é hoje cientificamente reconhecida, tan­to nos Estados Unidos como na Inglaterra, na Alemanha quanto na URSS.

Kardec desenvolveu o seu método de pesquisa tendo por base o processo de comunicação. Hoje estamos na é­poca da comunicação e essa palavra adquiriu um valor cien­tífico de importância básica. Mas a palavra comunicação já era, no tempo de Kardec, uma categoria da Filosofia Es­pírita e designava um elemento fundamental da pesquisa espírita. A comunicação mediúnica abriu para o homem uma nova dimensão na sua concepção do mundo e da vida. E Kardec dedicou-lhe todo um tratado, com O Livro dos Mé­diuns, estabelecendo as regras metodológicas da comunica­ção entre os vivos da Terra e os supostos mortos do Além. Nenhum tratado atual de Parapsicologia conseguiu superar o que Kardec descobriu e expôs nesse volume.

Com essa descoberta Kardec revolucionou o campo cen­tral das estruturas religiosas. O problema da Revelação, que representava uma fortaleza aparentemente inexpugná­vel da Religião, o seu mistério essencial e fundamental, foi cruamente esclarecido. E a posição metodológica de Kar­dec enriqueceu-se com a possibilidade de investigar as pró­prias bases da Religião. Mostrando que a fonte da Reve­lação é a comunicação mediúnica, Kardec pôde estabelecer a relação entre Ciência e Religião de maneira definitiva. Existe, explicou ele, a Revelação Espiritual, que consiste no ensino de leis do mundo espiritual através da comunicação mediúnica, e existe a Revelação Científica, que consiste na explicação de leis do mundo material através da comunica­ção científica, feita pelos pesquisadores. A Ciência Espírita­ utilizou-se dessas duas formas de revelação e estabele­ceu a conjugação de ambas para o controle do conhecimen­to da realidade, que é o objetivo direto da Ciência.

Foi assim que Kardec, adotando uma orientação me­todológica segura e nunca dela se afastando, conseguiu, fi­nalmente, desdobrar a moderna concepção do mundo, reve­lando a face oculta da própria Terra em que vivemos e ani­quilando o último reduto do maravilhoso ou sobrenatural. Graças a ele, ao seu trabalho gigantesco e ao sacrifício total da sua existência, os cientistas atuais poderão prosseguir no desenvolvimento das Ciências, sem tropeçar nas barreiras supersticiosas, mitológicas, mágicas e teológicas do passa­do. Kardec completou a Ciência com a sua contribuição espantosa. Fez, praticamente sozinho, no campo do espí­rito, e em apenas quinze anos de trabalho, o que milhares de equipes de cientistas, no campo da matéria, realizaram através de pelo menos três séculos.

E a precisão do seu método se confirma nas conclusões inabaladas e inabaláveis a que chegou sozinho, muitas ve­zes criticado pelos seus próprios companheiros, que o acu­savam de personalismo centralizador. Faltava aos próprios companheiros o espírito científico que o sustentou na ba­talha sem tréguas. Os que hoje desejam confundir as coi­sas, ignorando o problema metodológico em Kardec, acei­tando mistificações grosseiras de espíritos pseudo-sábios, ser­vem apenas para provar, ainda em nossos dias, como e quan­to Kardec avançou no futuro, superando de muito o seu tempo e o nosso tempo.

Só a ignorância orgulhosa ou a inteligência vaidosa e interesseira podem hoje querer superar Kardec, quando a própria Ciência e a própria Filosofia atuais estão ainda ras­treando as conquistas de Kardec, nos rumos de futuras descobertas. O Espiritismo evolui, como tudo evolui no Uni­verso. Esse é um axioma espírita. Mas a obra de supe­ração de Kardec pertence às gerações do amanhã, pois a geração atual não revelou ainda condições sequer para compreender Kardec. Por outro lado, é bom lembrar que a superação de Kardec não será mais do que o prossegui­mento do seu trabalho, o desdobramento da sua obra, na medida em que o homem se torne mais apto a compreender o que Kardec ensinou. O atraso atual do movimento espí­rita nos sugere, mesmo, que talvez o próprio Kardec tenha de voltar à Terra, como os Espíritos lhe disseram na ocasião em que esteve entre nós, para completar a sua obra, que homem nenhum foi capaz até o momento de ampliar em qualquer sentido.


Os leitores que desejarem verificar as comprovações pa­rapsicológicas atuais das pesquisas de Kardec poderão fazê­-lo em duas fontes: a nossa tradução anotada de O Livro dos Médiuns e o nosso livro Parapsicologia Hoje e Amanhã, em sua quarta edição. Neste último encontrarão um capitulo especial sobre a descoberta do corpo bioplasmático pelos fí­sicos e biólogos soviéticos.



Fotografias da aura das coisas e dos seres têm sido apre­sentadas como fotografias da alma e justamente rejeitadas pelas pessoas de bom senso. Essas fotos pertencem à fase da efluviografia nas experiências com as câmaras Kyrillian. As fotografias do corpo bioplasmático são as que realmente correspondem à alma.

J. HERCULANO PIRES.
A Pedra e o Joio. Cap. 3.

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